Diogo Castro, estudante do 1º ano da Licenciatura em Engenharia Informática e Computação (L.EIC), alcançou a medalha de ouro no 2º Torneio Mundial de Boccia Challenger, organizado pelo Centro de Treino Olímpico e Paralímpico de Pajulahti, que teve lugar de 9 a 17 de maio de 2025, na Finlândia.
Nuno Teixeira (SICC/FEUP) entrevistou o vencedor após esta conquista assinalável:
“Com apenas 18 anos, Diogo Castro é já uma certeza no panorama mundial do Boccia.
Depois da conquista da medalha de ouro no Campeonato do Mundo jovem da modalidade, em março deste ano no Brasil, o estudante do 1.º ano da licenciatura em Engenharia Informática e Computação já olha para as próximas competições com ambição, com especial enfoque nos jogos Paralímpicos.
Para já, o atleta do FC Porto vai participar no Campeonato da Europa, a disputar em Zagreb, na Croácia, entre 8 a 16 de julho, onde, como já tem sido habitual, quer ouvir “A Portuguesa” no final da prova.
Como é que o Boccia surgiu na tua vida?
Experimentei o Boccia bastante cedo, quando tinha oito anos, mas os horários não eram compatíveis com a escola, então só aos 10 anos é que surgiu a oportunidade de jogar no FC Porto, mas principalmente com o objetivo de socializar e fazer algo diferente.
Fala-me um pouco sobre o teu percurso desportivo no Boccia.
No início era mesmo por diversão, mas com o tempo percebi que a modalidade era muito mais do que apenas “lançar bolas”. À medida que os anos foram passando, e com a conquista de algumas medalhas, a maneira como olhava para a modalidade foi mudando e tornando mais competitiva. Com várias conquistas nos campeonatos jovens, percebi que podia evoluir cada vez mais. Contudo fui adquirindo novos equipamentos, nomeadamente a rampa/calha e bolas, para me manter competitivo, numa modalidade em constante crescimento.
O que gostas mais na prática do Boccia?
De ser um jogo tático, onde o atleta que pense melhor o jogo supera as dificuldades que vão sendo criadas pelo adversário.
Jogas numa classe de Boccia chamada Bc3. Em que é que consiste e em que é que se diferencia das outras?
Os atletas são distribuídos pelas várias classes, tendo em conta a sua condição física. No meu caso por não ter força para lançar a bola, utilizo uma calha. Bc3 é a única classe que utiliza calha e a ajuda de um operador de calha, que não vê o jogo e apenas faz aquilo que eu lhe peço, no sentido de colocar a rampa na direção do jogo, e a bola na altura certa.
Como é que funciona essa ligação entre ti e o operador de calha?
No meu caso o operador de calha é o meu pai, que funciona como os meus braços e pernas. É importante estar em sintonia com o operador de calha, pois a informação que lhe dou tem de ser percetível e de fácil entendimento pois temos de jogar dentro do tempo limite (seis minutos individual e sete minutos em pares).
Estás quase a representar Portugal no Europeu de Boccia, agora em julho. Como é que perspetivas esta competição? Confiante num bom resultado?
Vai ser uma competição importante que me poderá dar muitos pontos para o ranking mundial, dependendo sempre dos resultados. Nesta competição vão estar presentes os melhores da Europa, que por sua vez se encontram no top mundial. Tenho a noção que o grau de dificuldade é superior a qualquer competição em que já entrei, mas estou confiante na minha capacidade de enfrentar os melhores. Eu gosto de pensar passo a passo e o primeiro objetivo é passar a fase de grupos, tentando sempre chegar o mais longe possível, com o sonho de trazer uma medalha.
Venceste, no mês passado, a medalha de ouro no Pajulahti 2025 World Boccia Challenger, na Finlândia, tendo derrotado três adversários do top-20 mundial. Como é que foi saborear esse momento?
Para mim foi a primeira medalha individual internacional pela seleção principal, o que significa muito nos meus objetivos. Sentir o meu esforço recompensado ao mais alto nível na conquista da medalha de ouro foi, sem dúvida, um sentimento único. Terminar a noite a ouvir “A Portuguesa” tornou o momento inesquecível.
Estavas à espera de conseguir esta medalha, naquela que foi a apenas a tua segunda prova internacional? O que mais te marcou nesta competição?
Para ser sincero, o principal objetivo era mesmo passar a fase de grupos e depois sonhar em conquistar uma medalha. Foi importante ouvir elogios dos adversários ao meu desempenho uma vez que era o atleta mais jovem na competição.
Apesar dessa juventude, já tens um currículo competitivo muito interessante, com a conquista de vários títulos nacionais…
Sinceramente, sinto que estou no ponto mais alto da minha curta carreira, a nível nacional e, principalmente, internacional ao serviço da seleção nacional. Atualmente, encontro-me nos melhores quadros do Boccia em Portugal, graças a essa evolução do material, e de uma maior entrega da minha parte em termos de treino e competição, o que me permitiu várias conquistas nacionais e internacionais.
Aos 18 anos, Diogo Castro já conta com uma carreira recheada de conquistas, entre elas o terceiro lugar no World Boccia Youth Championship, Campeonato Nacional Jovem, ambos em 2023, o Bicampeonato Nacional Jovem, Campeão de pares no World Boccia Challenger (no Cairo, Egito), Vice-Campeão Nacional Absoluto, tudo em 2024, e já neste ano, a conquista do Campeonato Regional Zona Norte, a medalha de ouro no challenger do World Boccia Youth Championship em Curitiba (Brasil), primeiro lugar no World Boccia Challenger em Pajulahti (Finlândia), o terceiro lugar em pares, também neste challenger finlandês, e a medalha de prata no Campeonato Nacional Individual masculino.
Qual é o momento mais alto da tua carreira até agora?
Posso afirmar que os títulos mais importantes conquistados foram precisamente esta época, desde a conquista do campeonato regional, ao título de campeão do mundo jovem no Brasil, terminando na conquista da medalha de ouro no Challenger na Finlândia.
Esperavas ter este tipo de desempenho quando começaste a carreira no Boccia?
Quando comecei a carreira estava bem longe de pensar que poderia estar onde estou atualmente. Só em 2023 é que fui convocado para o campeonato de mundo jovem para representar a seleção nacional, e foi aí que me apercebi daquilo que poderia alcançar com o Boccia.
Até onde esperas chegar na tua carreira desportiva?
Atualmente o sonho de poder representar a seleção nacional nos Paralímpicos é um objetivo claro no meu crescimento como atleta.
Que ídolos é que tens nesta modalidade?
Eu identifico-me muito com dois atletas: o Adam Peška e Daniel Michel, muito em parte pelas superações físicas bastante semelhantes às minhas.
Estás a frequentar o 1.º ano da Licenciatura em Engenharia Informática e Computação. Estás a gostar?
Sim, vai de acordo com as minhas expectativas.
O que é que te fez escolher a FEUP e a área da Engenharia Informática? Sempre foi um objetivo para ti entrar aqui na FEUP?
Sempre tive interesse nas novas tecnologias, pelo que a área da engenharia informática sempre esteve entre as minhas opções. Para além da FEUP ser uma Faculdade próxima da minha residência, é uma Faculdade de Engenharia de renome a nível nacional e internacional principalmente na área da informática. Desde que tomei a decisão de seguir esta área que a FEUP estava nos meus planos.
A mudança da escola secundária para o ensino superior pode ser desafiante. Como foi a adaptação?
Nas primeiras semanas senti uma clara mudança entre a realidade do secundário e da Faculdade, mas julgo que me adaptei bem e atualmente sinto-me bem integrado.
O processo de adaptação pode ser visto como algo com duas vias. Como é que a própria FEUP se adapta a alguém com as tuas particularidades? Há algo que possa ser feito para melhorar?
Penso que a FEUP se adaptou bem às minhas necessidades, e tinha todas as condições para o fazer, o que facilitou claramente a minha integração. A única situação negativa a apontar é mesmo a falta de um/a assistente pessoal que foi pedido no início do ano letivo e até a presente data não foi atribuído/a.
Como é que concilias os treinos no Boccia com os estudos na FEUP?
Os treinos são normalmente ao fim do dia, o que permite a minha presença nas aulas, sendo por isso fácil conciliar com os treinos. As maiores dificuldades acontecem nos períodos das competições e estágios da seleção nacional, nessas alturas torna-se mais difícil poder acompanhar a matéria.
O que é que mudarias para poder facilitar esta conciliação?
Não vejo como poderia mudar, uma vez que as datas não são flexíveis e temos sempre de nos adaptar.
Quais é que são os grandes objetivos para a tua vida enquanto atleta e engenheiro?
O ideal será sempre poder conciliar a vida desportiva com a profissional, ou seja, tendo sempre disponibilidade para poder treinar e competir, sem abdicar do tempo profissional.”