Provas de Doutoramento (PDMD): ”Food Wide Web: a digital food and media literacy program addressed to adolescents”

Candidata
Adriana Aguiar Aparício Fogel

Data, Hora e Local:
20 de outubro de 2025, às 14:30 na Sala de Atos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Presidente do Júri:
Doutor António Fernando Vasconcelos Cunha Castro Coelho, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Vogais:
Doutora Joana Alves Dias Martins de Sousa Ferreira, Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa;
Doutora Ivone Marília Carinhas Ferreira, Professora Auxiliar do Departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa;
Doutora Sara de Jesus Gomes Pereira, Professora Associada com Agregação do Departamento de Ciências da Comunicação do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho;
Doutora Ana Filipa Pereira Oliveira, Professora Auxiliar da Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona;
Doutor José Manuel Pereira Azevedo, Professor Catedrático do Departamento de Ciências da Comunicação e da Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Orientador);
Doutor Ricardo José Pinheiro Fernandes Morais, Professor Auxiliar do Departamento de Ciências da Comunicação e da Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Resumo:

O complexo e saturado ambiente mediático atual deu origem a uma “infodemia” — um excesso de informações, tanto corretas quanto enganosas — com potencial impacto na saúde das populações. No campo da nutrição, a ampla disseminação de conteúdos enviesados ou incorretos contribui potencialmente para comportamentos alimentares pouco saudáveis e pode ajudar a explicar a elevada prevalência global de obesidade. Os adolescentes são especialmente sensíveis a este fenómeno pelo facto de os seus processos de autorregulação não estarem plenamente desenvolvidos e devido à maior suscetibilidade à influência de estímulos externos durante esta fase. Este contexto reforça a importância de promover, de forma integrada, uma literacia alimentar e mediática junto dos jovens, fornecendo-lhes ferramentas que lhes permitam interpretar criticamente, questionar, e lidar conscientemente com as influências do marketing alimentar e da desinformação sobre nutrição. Este estudo desenvolveu-se nesta conjuntura e teve três objetivos principais: (i) desenvolver e implementar uma intervenção que integrasse as dimensões da literacia alimentar e mediática em contexto escolar; (ii) avaliar a sua efetividade na promoção da literacia alimentar e mediática de adolescentes; e (iii) contribuir para a caracterização dos níveis de literacia alimentar e
mediática dos adolescentes em Portugal. A intervenção consistiu em dez sessões de 45 minutos, abordando oito dimensões do sistema alimentar — produção; transformação; distribuição; planeamento e gestão; seleção; preparação e confecção; consumo; e gestão do desperdício — através das competências centrais da literacia mediática: acesso, análise, avaliação e criação. Os conteúdos incluíram materiais mediáticos que incentivaram a reflexão e o debate sobre o sistema alimentar global. O programa foi implementado entre outubro de 2022 e maio de 2023 em quatro escolas do norte de Portugal — duas integraram o grupo de intervenção e duas o grupo controlo. A amostra final foi composta por 202 estudantes entre os 13 e os 16 anos (M = 13,6; DP = 0,75). Foram recolhidas informações através de um questionário que englobou cinco áreas temáticas principais: (a) exposição à publicidade de alimentos, (b) satisfação com o peso corporal, (c) opiniões, atitudes e conhecimento sobre media e alimentos, (d) padrões de ingestão alimentar e (e) literacia relacionada com a alimentação e os conteúdos mediáticos. O questionário construído a partir de instrumentos pré-existentes incluía perguntas abertas e fechadas, tendo sido aplicado em ambos os grupos, antes e após as sessões. No grupo de intervenção, os projetos desenvolvidos em sala de aula também foram alvo de análise. Os dados quantitativos foram avaliados estatisticamente e os dados qualitativos foram sujeitos a uma análise temática híbrida (indutiva/dedutiva), seguida de análise de conteúdo. Após a análise qualitativa inicial, foi desenvolvido um sistema de pontuação que atribuiu valores numéricos às respostas. Em linha com os objetivos do projeto, as escolhas saudáveis e sustentáveis, bem como as avaliações críticas e as criações com incentivo à participação foram valorizadas. Para este sistema de pontuação contribuíam as perguntas fechadas mas também as ações baseadas em tarefas, permitindo uma avaliação quantificável e abrangente do impacto da intervenção nas literacias alimentar e mediática dos estudantes, bem como nos seus comportamentos associados. As questões fechadas incluíram uma escala de resposta de Likert, composta por 15 questões sobre atitudes, opiniões e conhecimentos, tendo sido pontuada de 0 a 4 em cada item, com um máximo possível de 60 pontos. A secção relativa à frequência do consumo alimentar foi convertida para a respetiva ingestão semanal que resultou num índice de adequação alimentar, com pontuações positivas atribuídas a comportamentos saudáveis (ex.: consumo de frutas e legumes) e negativas a comportamentos não saudáveis (ex.: consumo de fast food), com uma pontuação inicial entre – 15 e 38, posteriormente transformada numa escala com início em 0, para facilitar a interpretação. Por fim, a secção sobre literacia mediática alimentar avaliou a compreensão de rótulos alimentares (0 a 6 pontos possíveis, com base em respostas corretas) e a literacia publicitária (pontuação até 14 pontos), incluindo análise crítica de anúncios (um em imagem e um em vídeo) e uma atividade criativa aberta. As respostas foram analisadas consoante à sua complexidade, considerando a capacidade de interpretar estratégias de marketing e expressar ideias de forma crítica e criativa. A conversão dos dados qualitativos em escalas numéricas permitiu comparações estatísticas entre momentos (pré vs. pós) e entre grupos (controlo vs. intervenção; masculino vs. feminino). Os resultados demostraram que a intervenção desenvolvida foi exequível e efetiva. Observaram-se melhorias significativas na literacia publicitária dos alunos (1,5 vs. 1,9; p = 0,009) e na sua capacidade de interpretar rótulos alimentares (2,0 vs. 2,2; p = 0,039). Entre as meninas do grupo de intervenção, observou-se uma melhora significativa nas pontuações totais referentes a opiniões, atitudes e conhecimento sobre media e alimentos (36.8 vs 38.1; p = 0,037). Relativamente à satisfação corporal, diferenças significativas entre as meninas do grupo intervenção e as do grupo controlo no momento pré intervenção tornaram-se insignificantes após a intervenção (p = 0,015 vs. p = 0,402). O mesmo aconteceu com as diferenças entre as meninas e meninos do grupo intervenção, que eram significativasapenas antes do programa (p = 0,010 vs. p = 0,412). Estes dados refletem melhorias na satisfação com a imagem corporal particularmente entre as participantes do sexo feminino, que reportam uma relação mais equilibrada e saudável com o seu corpo e hábitos alimentares após a participação no programa. Com relação aos padrões alimentares, os participantes do sexo masculino também apresentaram melhorias porém em hábitos específicos, destacando-se um incremento no consumo de cereais e tubérculos (6.2 vs. 8.2; p = 0,032). Contudo, identificou-se uma preocupação persistente relacionada com o peso corporal: 43.5% das meninas manifestaram desejo de alterar o seu peso, embora apenas 28.3% declarassem estar fora do peso que considerariam normal. Entre os rapazes, 76.1% deles se declararam num peso normal, mas 35.8% reportaram o desejo de mudar o seu peso, mesmo após participarem da intervenção. Além disso, constataram-se lacunas no conhecimento sobre o padrão alimentar mediterrânico recomendado em Portugal, um importante aspeto na caracterização dos adolescentes. Considerando-se a totalidade da amostra, os estudantes revelaram dificuldades em responder adequadamente a questões relativas a este tópico, reportando níveis apenas moderados de adesão ao referido padrão alimentar. Neste quesito, os participantes obtiveram uma pontuação 30,6 (SD = 7,4), de um máximo de 53. Os adolescentes relataram ainda uma habitual exposição a anúncios de alimentos ricos em açúcar, sal e gordura, apesar das medidas regulatórias existentes. Apenas 6,7% declararam não ter visto publicidade destes produtos nos 30 dias anteriores à pesquisa. Concluindo, esta tese propõe um modelo conceptual inovador que integra a literacia alimentar e mediática. Sustentada por evidência empírica, inclui um plano de aulas devidamente organizado e instrumentos de avaliação detalhados, constituindo um recurso prático para educadores em geral. Os recursos de apoio utilizados nas sessões são potencialmente adaptáveis a diferentes contextos educativos e geográficos. Os resultados contribuem para o crescente corpo de evidência que apoia intervenções educativas de carácter abrangente e reforçam a importância de integrar a literacia alimentar e mediática nos currículos escolares como estratégia para promover o pensamento crítico e escolhas alimentares informadas. Por fim, os dados apontam que um esforço conjunto é essencial para preparar os adolescentes para navegar num ambiente alimentar cada vez mais complexo, promovendo escolhas mais saudáveis e conscientes. Neste sentido, uma colaboração entre decisores políticos, profissionais de educação e agentes dos sectores envolvidos (anunciantes, agências de publicidade, veículos de comunicação, plataformas
digitais) é essencial. As ações adotadas hoje têm um impacto importante na saúde e no bem-estar desta e das futuras gerações.

Palavras-chave: literacia mediática; literacia alimentar; media digitais; programa educativo em
ambiente escolar; adolescentes.

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