Hugo Penedones, o português que esteve envolvido no arranque de um projeto que acabou por ser reconhecido com um prémio Nobel, e de quem se tem falado muito, não é para nós um português desconhecido.
Hugo, natural de Chaves, vindo da escola secundária Dr. Júlio Martins, frequentou e concluiu a LEIC – Licenciatura em Engenharia Informática e Computação (celebrou este ano 30 anos desde a sua criação), num percurso de 5 anos (2000 a 2005), tendo acabado a LEIC com o reconhecimento de melhor estudante do curso desse ano de conclusão.
Esteve quatro anos na Google DeepMind (London, UK) e foi neste período que integrado na equipa inicial do projeto Alphafold contribuiu para um modelo inicial de inteligência artificial que previa a estrutura das proteínas do qual resultou o artigo “Improved protein structure prediction using potentials from deep learning”, publicado na Nature em janeiro de 2020, em co autoria com os agora galardoados com o Prémio Nobel da Química, John M. Jumper e Demis Hassabis (entre outros autores).
O modelo Alphafold foi sendo desenvolvido ao longo dos últimos anos “conseguindo prever a estrutura de praticamente todos os 200 milhões de proteínas que os investigadores identificaram. Desde a sua descoberta foi utilizado por mais de dois milhões de pessoas de 190 países. Entre uma miríade de aplicações científicas, os investigadores podem agora compreender melhor a resistência aos antibióticos e criar imagens de enzimas que podem decompor o plástico. A vida não poderia existir sem proteínas. O facto de podermos agora prever as estruturas das proteínas e conceber as nossas próprias proteínas confere o maior benefício à humanidade”, pode ler-se no press release do The Nobel Prize.
O Prémio Nobel da Química 2024 foi atribuído a 9 de Outubro a David Baker pela proeza quase impossível de construir tipos de proteínas totalmente novos e a Demis Hassabis e John Jumper conjuntamente, por desenvolverem um modelo de IA para resolver um problema com 50 anos: prever as estruturas complexas das proteínas.
Nos discursos de Demis Hassabis e John Jumper, transcritos abaixo por esta ordem, fica claro que este feito se deve a todos os membros de equipas passadas e presentes que através do seu trabalho excecional tornaram possível este resultado. O entusiamo e curiosidade de Hugo Penedones, recordado aqui na sua intervenção no Commit 2018 (evento organizado anualmente pela AlumniEI), é prova que este reconhecimento também é seu.
“Receiving the Nobel Prize is the honour of a lifetime. Thank you to the Royal Swedish Academy of Sciences, to John Jumper and the AlphaFold team, the wider DeepMind and Google teams, and to all my colleagues past and present that made this moment possible. I’ve dedicated my career to advancing AI because of its unparalleled potential to improve the lives of billions of people. AlphaFold has already been used by more than two million researchers to advance critical work, from enzyme design to drug discovery. I hope we’ll look back on AlphaFold as the first proof point of AI’s incredible potential to accelerate scientific discovery.”
“Thank you to the Royal Swedish Academy of Sciences for this extraordinary honor. We are so honored to be recognized for delivering on the long promise of computational biology to help us understand the protein world and to inform the incredible work of experimental biologists. It is a key demonstration that AI will make science faster and ultimately help to understand disease and develop therapeutics. This is the work of an exceptional team at Google DeepMind and this award recognizes their amazing work.
Computational biology has long held tremendous promise for creating practical insights that could be put to use in real-world experiments. AlphaFold delivered on this promise. Ahead of us are a universe of new insights and scientific discoveries made possible by the use of AI as a scientific tool. Thank you to my colleagues over the years, for making possible this moment of recognition, as well as the many moments of discovery that lie ahead.”
Atualmente Hugo Penedones é o cofundador e diretor de tecnologia (CTO) da Inductiva.AI, uma startup portuguesa que disponibiliza uma interface de desenvolvimento de aplicações (API) que permite a laboratórios de investigação e empresas usarem os algoritmos de IA da startup para executar simulações. São inúmeras as utilizações da tecnologia Inductiva que vão desde desenho de medicamentos, a peças para a indústria aeroespacial e engenharia mecânica, à otimização de rotas entre muitas outras. No final do ano passado a startup que para além de Hugo Penedones conta com os outros dois co-fundadores na Direção, Luís Sarmento (Alumnus ProDEI) como Diretor Executivo e Clara Gonçalves como Diretora de Operações, conseguiu um investimento de 2,25 milhões de euros que lhes tem permitido investir em nova tecnologia e expandir a base de clientes.