“Semana Profissão: Engenheiro” 2023

“O Futuro passa por aqui” é o mote que acompanha mais uma edição do evento que enche a FEUP de estudantes do ensino secundário, ansiosos por saber o que é isto de ser engenheiro.

“Esta é uma oportunidade única para os alunos conhecerem de perto a nossa faculdade, estando os percursos desenhados de forma a mostrar o papel do Engenheiro na proteção do planeta, no aperfeiçoamento da humanidade e na construção de um Mundo cada vez melhor”, refere Sara Cristóvão, responsável pela organização da “SPE – Semana Profissão: Engenheiro”.

Durante 3 dias (28-30 março) a FEUP pretende ser um apoio esclarecedor na tomada de decisão de tantos jovens quando chegar o momento de ingressar no Ensino Superior. Para cumprir este objetivo foi criado um programa rico em percursos/atividades e sessões de esclarecimento para estudantes e encarregados de educação. Nesta edição de 2023 estão inscritos mais de 1500 estudantes e aproximadamente 70 professores e psicólogos de Norte a Sul do país que encontram na FEUP a oportunidade de conhecer a realidade de uma instituição de Ensino Superior e contactar com a sua comunidade de professores, estudantes, staff e núcleos estudantis.

Para os estudantes que já sabem o que querem seguir e necessitam apenas confirmar a sua escolha, os percursos monotemáticos são a solução perfeita.

Nesta sessão da SPE, a Engenharia Informática organizou os percursos 16 e 17 (P16 e P17), com atividades variadas, focadas nos seguintes temas : “Aplicações de Inteligência Artificial”, “Segurança Informática”, “Laboratório de Desenvolvimento e Testes de Software”, “Gráficos, Interação e Jogos”, “Polivalência da Informática”, “Laboratório de Bases de Dados e Aplicações Web”, “Laboratório de Computadores”, “Projeto Integrador” e “Informáticos na FEUP: como são, o que fazem, o que comem e onde vivem” – que pretendem ser uma mostra do que se faz no curso de engenharia informática e computação.

E se após o evento as dúvidas continuarem a ser muitas, as portas continuam abertas para as esclarecer através do Consultório de Dúvidas FEUP.

Equipa “magic FoRMuLa” venceu o desafio de “Innovative Design” da EBEC Challenge Porto

A 15 ª edição do European BEST Engineering Competition Challenge (EBEC Challenge) decorreu na FEUP de 4 a 6 de março (ronda local) e desafiou dezenas de equipas formadas por estudantes da FEUP e da FCUP a conceberem em 24 horas um protótipo colocando à prova a sua criatividade, a capacidade de resolução de problemas, o trabalho em equipa, e a possibilidade de estar presente na ronda nacional/regional, com os vencedores de todas as rondas locais de Portugal e de Espanha, numa final que terá lugar na Universidade Politécnica de Madrid entre os dias 5 e 8 de maio de 2023.

Esta competição está dividida em duas modalidades, Case Study (prova teórica onde é dado um problema real de uma empresa para resolver) e Innovative Design (prova prática onde o principal objetivo é construir um protótipo, com um número de materiais limitado e de baixo custo), tendo sido nesta última que venceu a equipa “magic FoRMuLa”, constituída por quatro estudantes do Mestrado em Engenharia Informática e Computação.

Lucas SantosFrancisco Pires, Rita Ramada e Mafalda Magalhães fizeram magia e em 24 horas criaram um protótipo capaz de apanhar lixo de um tanque de água, tanto à superfície como em profundidade, e depositá-lo numa plataforma. Para conseguir o seu objetivo a equipa apenas podia utilizar materiais disponíveis na loja designada, que tinham um custo de créditos associado. Lucas Santos diz-nos que estavam limitados ao stock existente, pelo que, tendo começado rapidamente a esgotar alguns materiais essenciais, foram obrigados a tomar decisões rápidas entre planear antecipadamente o protótipo, gerir os créditos gastos (que influenciariam a pontuação final) e adquirir os materiais que necessitavam enquanto ainda estavam em stock.

E qual o segredo para o sucesso? “O trabalho em equipa foi uma das chaves para o nosso sucesso, uma vez que cada membro trouxe diferentes competências e conhecimentos para o desafio. A comunicação e a coordenação entre cada um de nós foi fundamental para garantir que todos estavam na mesma página e a trabalhar em direção aos mesmos objetivos”, diz-nos a equipa vencedora cuja decisão de concorrer ao EBEC Challenge foi motivada pelo desejo de testar as suas capacidades práticas e pelo desafio de competir com outros estudantes.

Desde o ano letivo 2013/2014 que a EBEC Challenge Porto é creditada com 1.5 ECTS como sendo uma ação de formação de 40,5 horas. A prova de Case Study tem a denominação de “EBEC Porto 24h – Caso de Estudo” e a prova de Innovative Design tem a denominação de “EBEC Porto 24h – Conceção em Equipa” tendo sido um sucesso a cada edição.

Foto: BEST Porto

Pedro Fardilha Barbeira (L.EIC) lança “Verbal Alquimia”

No próximo dia 21 de março, pelas 18:30, na Biblioteca da FEUP (Piso 0), o estudante do 3º ano da Licenciatura de Engenharia Informática e Computação, Pedro Fardilha Barbeira, lançará “Verbal Alquimia, um livro de poesia onde “somos desafiados a comungar dos sentimentos mais profundos inerentes ao Homem, não porque nos comove, mas porque nos oferece a liberdade de pensar, de sentir e, – para os mais ousados -, de viver.”

À conversa com o Pedro Barbeira confessou-nos que “a Engenharia Informática surgiu um pouco caída do céu”. A dedicação da altura (estávamos em 2013), aos computadores e aos jogos, a as “cismas” na robótica – sonhava fazer próteses médicas, fê-lo optar pela Informática. Mas os primeiros anos de faculdade, onde teve que dividir forças entre desafios pessoais complexos e todo um mundo novo bem diferente da secundária, revelaram-se naquele período um verdadeiro Cabo das Tormentas.

Um dia decidiu, como nos conta, “retornar ao curso e realmente enfrentar este Adamastor, que teimava em projetar a sua Sombra no meu caminho”. No trajeto descobriu uma paixão pela programação: “Nela encontrei o concílio perfeito entre o Método e a Criatividade, essas duas facetas da Ordem e do Caos, tão próximas e necessárias”. O interesse foi-se aprofundando não só pelas “disciplinas mais “esótericas” – Sistemas Operativos, Redes de Computadores, Compiladores – como também pelas mais pragmáticas – Desenvolvimento Web, UI/UX, entre tantas outras”.

Quando lhe perguntamos qual a ligação entre a escrita e a informática, Pedro diz-nos que a conexão entre ambas surge naquilo que idealiza ser a sua vida de sonho: “A escrita é uma ferramenta imprescindível no que toca à partilha de conhecimento – creio ser mais verdadeiro, antigo e profundo património da Humanidade. Dado o estado atual do Mundo, acredito que a evolução surgirá precisamente devido à partilha de experiências e vivências – tão necessária à empatia e cooperação – assim como uma reavaliação do valor da experiência subjetiva – tão esquecida pela nossa  sociedade profundamente objetiva. Como tal, sinto que a programação me permitirá desenvolver e explorar as minhas próprias ideias, ao nível de aplicações focadas no utilizador comum, como potenciar a expansão e evolução de negócios e projetos em que realmente acredito. A capacidade literária contribui, em muito, para a clareza e especificidade da expressão oral, assim como para a capacidade de tecer analogias, esse ancestral veículo de transmissão de sabedoria, capacidades centrais à gestão de pessoas e equipas, à interação com clientes e entidades patronais, assim como à análise e observação dos problemas sociais que podemos procurar mitigar ou corrigir através dos nossos programas”.

Falando no futuro diz-nos que quer apostar no freelancing quando se sentir preparado e sonha “estar à cabeça” do seu próprio negócio. “As letras proporcionam-me a capacidade de análise, síntese e compreensão que sinto necessitar para ter impacto ao nível que considero relevante, e a Engenharia proporciona-me as ferramentas técnicas e competências necessárias para atingir esses objetivos. Um lembrete vincado de que o Conhecimento é plural e transversal, e que por vezes as soluções mais evolutivas se encontras nos lugares menos esperados”, partilha connosco o estudante que em breve nos dará a conhecer “as suas visões pelos retorcidos meandros dos poéticos versos que por si se fazem desaguar”.

A entrada é livre, estão todos convidados.

CreativityTalks | “The End of Programming (as we know it)” pela Prof. Cristina Videira Lopes

“This talk is an exploratory tour through this brave new world, and its consequences to our field and to Computer Science (CS) education”, antecipa a oradora de uma apresentação num tópico que, fruto dos avanços da Inteligência Artificial (IA) em “Large Language Models (LLMs)”, mediaticamente expostos pelo ChatGPT, promete revolucionar o desenvolvimento de software.

“The End of Programming (as we know it)” será apresentada pela Prof. Cristina Videira Lopes, com moderação do Prof. João Paulo Fernandes, no dia 23 de março18:00, na sala B035, com transmissão online via Youtube.

Pela oradora:

“For the past 80 years, “programming” meant translating a high-level, semi-formal specification of a desired effect from natural language into computer instructions, using an artificial programming language. Mastering these translations requires domain knowledge of algorithms and data structures, talent, and years of practice. Large Language Models (LLMs) are disrupting the very notion of “programming.” The disruption is profound, and at two levels: (1) LLMs are capable of doing those translations automatically, and (2) many of the desired effects can be obtained without the use of algorithms or data structures. This talk is an exploratory tour through this brave new world, and its consequences to our field and to CS education.”

Short-Bio:

Cristina (Crista) Lopes is a Professor in the School of Information and Computer Sciences at University of California, Irvine, with research interests in Programming Languages, Software Engineering, and Distributed Virtual Environments. She is an IEEE Fellow and an ACM Distinguished Scientist. She is the recipient of the 2016 Pizzigati Prize for Software in the Public Interest for her work in the OpenSimulator virtual world platform. Her book “Exercises in Programming Style” has gained rave reviews, including being chosen as “Notable Book” by the ACM Best of Computing reviews.

Workshop | ” Artificial Flora: Evolving Shapes With Superformula” com Martinus Suijkerbuijk

O workshop terá lugar dia 27 de março, às 14:30, na sala I323.

Inscrições: https://forms.gle/ygPt14JE6a5soXaK6

Pelo formador:

“With the parametric tools in blender –geometry nodes– it is possible to create, with relatively simple node-based algorithms, great procedural pipelines. This functionality can be expanded with the integration of Python within blender, and amplify possibilities of creation and automation.

For this workshop, after some basic introduction of evolutionary algorithms and its application in creative practices, the participants have the opportunity to experiment with a custom designed evolutionary algorithm that can evolve a large variety of shapes. The shapes architecture is based on Johan Gielis’ Superformula. After we established our own dataset of shapes, through evolutionary selection, we’ll proceed with designing our own procedural algorithm to create a collection of artificial flora that the participants can use in their own virtual environments. Keywords: Blender, Evolutionary algorithms, geometry nodes, python, procedural modelling.”

 Martinus Suijkerbuijk is an artist, designer and engineer that currently is working towards completing his artistic research PhD at the Trondheim Academy of Fine Art, Norway. His artistic research is focused on the concept of Computational Aesthetics, which he explores through the use of AI empowered Artificial Aesthetic Agents (AAA) in virtual environments. His diverse background has enabled him to present his research and work at cultural institutions such as ZKM and MetaMorf, as well as technology conferences like CHI 2018 and Philips Trend Event.

Para mais informação contactar o Prof. António Coelho (DEI)

DEI Talks | “Computational Inaesthetics: Expanding the Boundaries of Artistic Research and Computational Aesthetics” por Martinus Suijkerbuijk

“Computational Inaesthetics: Expanding the Boundaries of Artistic Research and Computational Aesthetics” será apresentada sexta feira, 24 de março, às 14:30, sala I-105, com a moderação do Prof. António Coelho, docente do DEI.

Pelo autor:

“The increasing use of digital technologies in artistic practice, coupled with the recent emergence of AI, has led to a growing intersection and mutual influence between two related fields: artistic research and computational aesthetics. Artistic research involves using artistic practices to generate new insights and understandings about the world and reflect critically on the process of creating art. In contrast, computational aesthetics involves the theory, practice, and implementation of aesthetics within the domain of computing, and in its most formal version relies on mathematical and computational methods to generate and evaluate art.

However, there has been criticism of computational aesthetics for failing to account for the subjective and non-algorithmic nature of aesthetic experience. Nonetheless, this presentation proposes a practical framework that seeks to resolve this critique by highlighting an expanded view of computational aesthetics, which the presenter terms Computational Inaesthetics.

Through the discussion of basic concepts and principles of artistic research and computational aesthetics, and through the analysis of a selection of artworks by the presenter, the presentation explores the ways in which these fields can inform and enhance each other. Furthermore, the presentation provides an overview of the artistic contents and theoretical underpinnings of the presenter’s artistic research PhD project.

Overall, this presentation showcases the exciting potential of bringing together artistic research and computational aesthetics to expand our understanding of aesthetics, art, creativity, and the role of technology and computation in society.”

Martinus Suijkerbuijk is an artist, designer and engineer that currently is working towards completing his artistic research PhD at the Trondheim Academy of Fine Art, Norway. His artistic research is focused on the concept of Computational Aesthetics, which he explores through the use of AI empowered Artificial Aesthetic Agents (AAA) in virtual environments. His diverse background has enabled him to present his research and work at cultural institutions such as ZKM and MetaMorf, as well as technology conferences like CHI 2018 and Philips Trend Event.

Acesso aberto, o “slow science” e o “fast science”

“Poderá a divulgação de Ciência ser um negócio rentável? Nunca como agora a comunidade científica sentiu tanta pressão na validação e legitimação do que é produzido. Poderá a solução passar pelos repositórios de Acesso Aberto?”

São questões colocadas pelos docentes do DEI, Carlos Baquero, João Cardoso, Pedro Diniz e Rui Maranhão, e que abrem o artigo de opinião recentemente publicado no Expresso e que abaixo transcrevemos:

“A publicação de artigos científicos em conferências e revistas de referência é uma das atividades mais importantes para a divulgação e avanço da ciência e do conhecimento. Recentemente a FCCN, via B-On (biblioteca do conhecimento online), estabeleceu mais um protocolo no sentido de criar condições mais favoráveis para a comunidade científica nacional publicar artigos científicos em Acesso Aberto. A publicação em Acesso Aberto tem a vantagem de permitir a leitura de artigos sem custos de subscrição.

Enquanto no sistema clássico de publicação, os custos eram normalmente cobertos pelas instituições ao subscreverem revistas científicas para uso dos seus investigadores, normalmente podendo os mesmos optar por Acesso Aberto através de custos adicionais, no sistema único de Acesso Aberto estes custos são transferidos para o momento de publicação, e usualmente cobertos por um projeto de investigação afeto aos autores. Estes protocolos visam reduzir estes custos, usualmente com descontos sobre a taxa de processamento de artigos.

Sem entrarmos na polémica sobre o lucrativo negócio das editoras especializadas em ciência, é fácil observar que houve uma transferência do momento em que as editoras são financiadas. No sistema clássico os autores submetiam os seus trabalhos, estes eram avaliados por outros cientistas, melhorados e, sendo aceites, eram publicados nas revistas, sem nenhuma transação que envolvesse o autor (eram comummente as bibliotecas que assumiam estes custos).

No sistema de Acesso Aberto, que genericamente exige as tais taxas de processamento, o autor tem de garantir financiamento depois do artigo ser aceite para que este seja publicado. Embora em teoria não se esteja a pagar pela aceitação do artigo, e tal só dependa da sua qualidade, os incentivos económicos mudam um pouco o panorama, pois pode passar a haver mais pressão sobre as editoras para maximizar o número de artigos publicados.

Apesar deste risco, as editoras têm interesse em preservar o seu prestígio e o prestígio das revistas que publicam. Ao selecionarem um número reduzido de artigos da máxima qualidade, prestam um importante papel de seleção editorial aos seus leitores, às próprias áreas científicas, e melhoram o potencial impacto de cada artigo. Várias revistas clássicas, suportam ambas as modalidades de publicação, sendo o Acesso Aberto apenas uma opção e podendo as publicações aceites ser publicadas sem custos para o autor.

Resultados publicados em revistas de topo, como a Science e Nature, têm imensa visibilidade quer na comunidade científica quer, por vezes, na sociedade em geral. Contudo, sendo estas publicações muito seletivas, exigem aos autores vários meses de preparação, antes da próprio envio do artigo, e de melhoramento e trabalho adicional significativo ao longo do exigente processo de revisão pelos pares. Numa sociedade de “fast food” nem sempre parece haver tempo para estes morosos processos de “slow science”.

Na última década, junto com o crescimento da modalidade de Acesso Aberto, tem também crescido a oferta de revistas de Acesso Aberto que prometem tempos de revisão pelos pares muito curtos, tornando-se assim muito desejáveis para investigadores júnior desejosos de melhorar os seus perfis académicos. Pegando no provérbio “Depressa e bem, não há quem” podemos observar que há limites para os ganhos de eficiência que se podem obter quando os revisores são usualmente outros cientistas, não remunerados pela editora, com escasso tempo disponível, em particular quando são cientistas de renome.

Nestas editoras, a obtenção de eficiência levam invariavelmente a corpos editoriais com várias centenas de membros, habitualmente pouco conhecidos, em contraste com a usual dezena de nomes reconhecidos pela comunidade e com um papel claro na seleção de artigos em revistas de referência.

Outros mecanismos para assegurar um modelo de negócio lucrativo parecem assentar na criação de inúmeras edições especiais por convite e no convite massivo a vários cientistas para a preparação destas edições; muitas vezes em áreas que não dominam ou nas quais não são reconhecidos. Os cientistas têm mesmo sido aliciados por ofertas e reduções em relação a custos de Acesso Aberto, uma estratégia que garante o envolvimento de muitos e a abrangência necessária para um modelo de negócio lucrativo. Todos estes fatores diminuem e muito a perceção de qualidade dos artigos selecionados.

Esta diminuição da qualidade de publicação tem sido recentemente discutida noutros países europeus, com abordagens algo díspares. Os potenciais impactos destas práticas na qualidade da ciência foram discutidos num artigo da KTH Royal Institute of Technology, Suécia; já na nossa vizinha Espanha tem sido discutida a crescente migração para meios de publicação rápida. Nalguns países, como por exemplo na Suíça e Reino Unido, estes canais de difusão de resultados científicos são simplesmente ignorados ou mesmo desconhecidos. Nota-se mesmo da parte de instituições de referência, uma postura de rejeição em que investigadores com extensiva ou significativa parte das suas publicações nestes canais não são levados a sério.

Talvez não seja alheia a este fenómeno de publicação rápida de resultados pouco amadurecidos, a observação de que cada vez há menos impacto da investigação na transformação da sociedade, tal como documentado num recente artigo da Nature.

A publicação rápida e massificada por via destas editoras tem sido demasiado tentadora para cientistas em início de carreira, para uma comunidade científica sujeita a imensa pressão competitiva e onde a publicação regular é essencial para o desenvolvimento da carreira. Em Portugal, podemos constatar que o crescimento da proporção de publicações em Acesso Aberto, na última década (linha negra), não teria ocorrido se fosse descontado o efeito das publicações em duas grandes editoras de publicação acelerada (linha vermelha mostra como seria a proporção sem essas publicações que designamos por Acesso Aberto Acelerado). O efeito seria ainda maior se fossem descontadas outras revistas de menor dimensão e associadas a práticas que se poderão mesmo classificar de predatórias.

Se por um lado o Acesso Aberto pode ser positivo para uma melhor divulgação dos resultados de investigação, tal não deveria ser à custa da diminuição de qualidade das publicações. Tal como um pouco de fast food pontual não tem grande impacto na nossa saúde, também parece razoável uma certa dose deste tipo de fast science. Nem sempre toda a investigação produz os resultados que os autores gostariam; há competição e por vezes outras equipas publicam primeiro.

Contudo, já não é saudável, tal como com uma dieta primariamente de fast food, que o grosso das publicações de um dado investigador, equipa ou instituição comecem a ser, por norma, deste tipo. Muitos artigos que poderiam alcançar revistas de topo acabam por não realizar todo o seu potencial ao serem direcionados para estes canais de publicação rápida.

Aliás, a existência de repositórios de pré-publicação, como o arXiv e medRxiv, permitem alcançar uma divulgação rápida e aberta sugerindo mesmo que estes canais (e não os de publicação em Acesso Aberto Acelerado) fossem usados para esse mesmo propósito permitindo assim aos autores refinar os seus artigos e elevando mesmo a sua qualidade (em termos de extensão de dados e/ou mais sólida fundamentação das conclusões) pela sua publicação noutros canais com mais demoradas fases de avaliação por pares.

Pior do que o desenvolvimento de um currículo rápido e a metro, a abordagem atualmente vigente é ela própria contraproducente para os autores, já que não permite aos próprios realização do seu máximo potencial e pode, a longo prazo, ter impacto negativo nas suas carreiras. Uma pedra basilar do sistema é a liberdade individual de investigação; os autores são soberanos nas suas escolhas de alvos de publicação. Porém é importante estar atento à existência de revistas com estratégias mais massificadas e potencialmente predatórias. Há 20 anos, era relativamente simples distinguir as boas revistas das revistas com prácticas que se poderão classificar como predatórias, sendo estas últimas muito artesanais e pouco profissionais. Atualmente a fronteira é muito mais ténue, em parte fruto de modelos de negócio extremamente lucrativos e muito bem-sucedidos.

Parece-nos por isso muito importante que a comunidade científica nacional evite o domínio do “fast science”, nomeadamente evitando que as novas gerações de cientistas caiam na tentação do fácil aliciamento destes modelos de negócio que gravitam na ciência.”

Este artigo de opinião foi publicado no Expresso a 21 de fevereiro de 2023 (09:33).

PLAY-THE-ODDS – Desenvolvimento de uma ferramenta de comunicação baseada no jogo para ajudar pais e filhos a lidar com o risco de cancro hereditário

Na semana em que se assinala o Dia Mundial das Doenças Raras, que desde a sua criação em 2008 se celebra no último dia do mês de fevereiro, a 28, ou 29, o dia mais raro do ano, ficamos a conhecer o PLAY-THE-ODDS, um projeto liderado pela Universidade do Porto que encoraja as famílias a falar sobre o risco de cancro hereditário e doenças rara.

Este projeto, que contou na equipa de investigação com António Coelho (DEI), Hernâni Oliveira (alumni PDMD) e Juliana Monteiro (PDMD), faz parte de uma linha de investigação do Centro de Psicologia da Universidade do Porto, dedicada ao bem-estar das famílias com risco de cancro hereditário. Esta linha de investigação teve início em 2018 com um projeto conjunto com o IPO Porto, o projeto TOGETHER, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (POCI-01-0145-FEDER-030980). O TOGETHER estudou os processos de adaptação psicológica à realização de testes de suscetibilidade genética ao cancro. Toda a produção científica pode ser encontrada aqui e foi compilada neste Livro Branco. Encontramos nesta documentação conteúdos de grande utilidade sobre síndromes genéticas de risco para o cancro e prevenção do cancro hereditário, adaptação familiar ao risco genético de cancro e algumas das principais síndromes genéticas de risco para o cancro e suas características e a importância dos serviços de saúde.

No decurso do TOGETHER, tanto famílias como profissionais de saúde indicaram a necessidade de uma preparação específica para revelar aos filhos a presença de uma síndrome na família, assim como para lidar com os desafios desta condição ao longo do tempo.

O PLAY-THE-ODDS é um projeto exploratório de 18 meses, financiado pela FCT (EXPL/PSI-GER/1270/2021), que vem dar resposta a esta necessidade. Com base na investigação científica, e partindo de metodologias participativas, o PLAY-THE-ODDS reúne pessoas portadoras de síndromes de cancro hereditário e seus familiares, especialistas de aconselhamento genético, psicólogos, designers de comunicação e especialistas em ludificação para em conjunto cocriarem soluções. A preparação específica para revelar aos filhos a presença de uma síndrome de cancro hereditário na família, assim como para lidar com os desafios desta condição ao longo do tempo, é uma necessidade vinda a sentir pelas famílias.

Segundo Célia Sales, investigadora principal do projeto, “esta realidade pode ser muito angustiante. A pessoa portadora da síndrome está a lidar com o seu próprio diagnóstico e ao mesmo tempo com o medo de poder ter transmitido esta condição aos filhos. Não sabe se deve contar aos filhos, nem como, ou quando será a altura certa. O nosso objetivo é criar um protótipo de uma ferramenta interativa de comunicação para ajudar pais e filhos a comunicar sobre o risco de cancro hereditário, que possa ser integrada em contexto de aconselhamento genético de rotina e em psico-oncologia como recurso de apoio para as famílias.”
Uma das novidades trazidas por este projeto é a sua abordagem de cocriação: o projeto reúne pessoas portadoras de síndromes de cancro hereditário e seus familiares, profissionais de saúde (Aconselhamento Genético e Psicologia) e profissionais da área tecnológica (Design de Comunicação e Design Centrado no Ser Humano) na procura ativa de soluções para as necessidades reais do seu quotidiano. Para Hernâni Oliveira, co investigador principal, “este projeto é inovador porque é a própria família e os profissionais de saúde que, em conjunto com especialistas na área da tecnologia, definem a solução que mais os ajuda, uma solução real definida por quem vive esta realidade”.

A comunicação de problemas relacionados com a saúde e a possibilidade de cancro hereditário não é uma tarefa fácil, especialmente num contexto familiar, onde a diferença geracional pode revelar uma dificuldade acrescida. Jogos sérios podem ajudar a aproximar estas diferenças e servir como facilitadores para ajudar quer em comunicar as implicações da doença para todos os membros da família, como em ajudar o paciente a melhor interiorizar e perceber a situação em que se encontra.

Com isto em mente João Monteiro Leite, recém graduado do M.EIC, colaborou no projeto através da dissertação “Collaborative platform for soundwalks to improve health literacy and communication”, onde desenvolveu uma framework para uma plataforma que irá hospedar várias soluções com o intuito de ajudar o paciente a perceber melhor a sua condição e os riscos genéticos associados, assim como facilitar a comunicação desta síndrome a outros parentes. Estas soluções também devem assistir os utilizadores na compreensão dos riscos que estes enfrentam, assim como as medidas que existem para lidar com estes. Uma destas soluções, o foco principal desta tese, é o desenvolvimento de uma soundwalk, que apresenta uma história narrativa com alguns desafios destinados a ajudar a facilitar a comunicação entre a díade parental.

+ informação sobre o PLAY-THE-ODDS, poderá ser obtida junto à investigadora Juliana Monteiro através do email jmonteiro.playtheodds@gmail.com.

Invited Talks | “Driving Simulators for the Study of Road Users’ Behaviour” pelo Prof. Stéphane Espié

“Driving Simulators for the Study of Road Users’ Behaviour” será apresentado terça-feira, 7 de março, às 17:15, na sala B012.

“To be efficient and accepted, road safety counter-measures need to be defined thanks to scientific studies. The question is not only to imagine an optimal solution in the absolute, but to understand the real practices and, based on this knowledge, to design the measures (sensitivity campaigns, changes in Highway Code, changes in initial training curriculum or licence tests, infrastructure (re)design, vehicles homologations, etc.). In our talk we will describe the tools and methods we promote and refined for decades to improve road safety, and their use in research projects. Our approach is systemic and is based on three pillars: instrumentation of vehicles for in-depth naturalistic studies, traffic modelling and simulation using a multi-agents system, and design of driving simulators to study driving behaviors. We will illustrate our approach using research projects we have conducted over these last years.”

Stéphane ESPIÉ is a Research Director at the Gustave Eiffel University. He holds an Accreditation to Direct Research in Computer Science (HdR, Pierre et Marie Curie University, 2004). His main research areas are behavioral traffic simulation (MAS based), and the design of tools to study road user behaviors (driving/riding simulators and instrumented vehicles). He currently conducts his research in SATIE laboratory (Paris Saclay university) where he leads the MOSS (Methods and Tools for Signals and Systems) research group.

CreativityTalks | “The Creativity Diamond Framework” pelo Prof. Peter Childs

Há muitas facetas na criatividade tendo o tema um impacto profundo na sociedade. Foi realizado um estudo substancial e sustentado sobre a criatividade e sabe-se agora muito sobre os fundamentos e como a criatividade pode ser aumentada. Para reunir estes elementos, foi desenvolvido o “Creativity Diamond Framework,” formulado com base em revisões de trabalhos anteriores, bem como na consideração de 20 estudos de doutoramento sobre os temas da criatividade, design, inovação e desenvolvimento de produto. A estrutura pode ser utilizada para estimular e ajudar a selecionar qual a ferramenta ou abordagem a utilizar num ambiente criativo para tarefas inovadoras. Esta apresentação explorará algumas das principais facetas da criatividade e descreverá o “Creativity Diamond Framework” e recursos associados, bem como a execução prática de ideias.

“The Creativity Diamond Framework” será apresentado pelo Prof. Peter Childs, no dia 2 de março, 18:00, online via Youtube.

Short-Bio:

Peter Childs is the Professorial Lead in Engineering Design and Co-Director of the Energy Futures Lab at Imperial College London. His general interests include creativity, innovation, design, sustainability and robotics. He was the founding Head of School for the Dyson School of Design Engineering at Imperial. Prior roles include director of the Rolls-Royce supported University Technology Centre for Aero-Thermal Systems, director of InQbate and professor at the University of Sussex. He has contributed to over 200 refereed journal and conference papers, and several books. He has been principal or co-investigator on contracts totalling over £100 million. He is a fellow of the Royal Academy of Engineering, Editor of the Journal of Power and Energy, Professor of Excellence at MD-H, Berlin, Advisor Professor at Guangdong University of Technology, Chairperson at BladeBUG Ltd and Founder Director and Chairperson at QBot Ltd.